Aviso prévio: excepcionalmente, vai ser um post negro. Depois disto a coisa há-de voltar ao normal.
Não lido bem com a morte.
Não é que a morte seja algo com que as pessoas lidem bem, claro que não. Mas desde que o André morreu que lido ainda pior com a morte. Cerca de um ano antes foi a minha avó, e se me custou, mas não foi a mesma coisa. Lembro-me dela muitas vezes, mas com o André foi diferente. Não passa um dia sem que eu tente analisar o que se passou, na tentativa de conseguir resolver este assunto dentro de mim. Além disso, penso muito na pessoa que eu era antes e no que me tornei. Num certo ponto de vista, penso que me tornei numa melhor pessoa. Será que foi por isso? Ou foi uma coisa natural que veio com a idade? Por outro lado, não tive ainda força para ultrapassar a morte do André e isso tem-me transformado numa sombra. Com toda a situação familiar envolvente, que também não era a melhor, chego à conclusão que este acontecimento é o fardo mais pesado que carrego até hoje. Sentimento de culpa? É parvoíce, a culpa não foi minha. A culpa não foi de ninguém. A culpa foi de todos? A verdade é que nunca fui capaz de contar toda a história, mesmo toda, a ninguém, o que leva a que alguns façam juízos errados sobre alguns comportamentos meus. Deixa-os fazer.
Há tempos, quando resolvi ir a uma psicóloga por outros motivos, apercebi-me que esta questão é mais grave do que poderia pensar. Como é natural, a psicóloga fez primeiro as perguntas da praxe, historial, etc. Perguntou sobre a família. Fiquei ali dividida. Falo no assunto, se não foi isso que me cá trouxe? Mentir também não é correcto, mesmo que ela nunca venha a saber. Resolvi dizer o essencial. Ela não era parva, percebeu que ali havia coisa, mas também não quis entrar muito por aí, disse que havia de se trazer as coisas antigas quando se achasse boa altura, mas que tinham que ser resolvidas. Dei por mim quase num pranto, num esforço imenso para não quebrar. E consegui, mas se calhar não devia ter conseguido. Se calhar foi mesmo tudo o que está para trás o que me levou ali. Não sou muito de psicólogos, mas pode ser que ainda lhe dê mais uma oportunidade. Nada disto tem cura rápida.
Desde 1995 que lido pior com a morte. E desde 1995 que eu me afasto de tudo e de todos quando me sinto pior por algum motivo. Fechar-me tem sido a pior das minhas opções, mas mesmo sabendo disso e por vezes mesmo tentando contrariar, acabo sempre por me fechar no meu cantinho, mesmo que esteja no meio de amigos.
Desde 1995, felizmente, têm havido muito poucas mortes humanas próximas. Não que não seja um pensamento que me assombre, mas isso acho mais habitual. Quem me conhece sabe que os animais são importantes para mim. Tendo seguido uma área relacionada, pensei que podia perder um bocadinho da sensibilidade extra que tenho relativamente aos animais, aquela que já atrapalha, o '80' do '8 ou 80'. E de certa maneira resultou. Menos com a parte da morte. Lido bem com o dia-a-dia, lido bem com eles na doença, faço o que puder, mas o momento da partida, sobretudo se for nas minhas mãos, fere-me por dentro. Felizmente na maior parte das vezes estava sozinha, chorar alivia, mas alturas houve em que não podia. É um pau de dois bicos. Se estou presente é fodido, se por algum motivo não posso estar presente a sensação de perda ainda dura mais tempo. O pior passa, sempre, mas cada uma vai acumulando, vai pesando. Até quando? Para sempre? Como é que se resolve algo que não tem resolução? Enterrar num buraco da mente não ajuda, já vi que não. Deitar tudo cá para fora muda alguma coisa? Penso tanto nisto tudo que por vezes o cérebro parece que frita. E não é voluntário, isto do pensar demais nas coisas. Bem luto contra isso. Mas não há cá trancar pensamentos, eles têm vontade própria.
Há que mudar. Mas mudar o quê? Sinto-me fraca. Sinto que podia fazer, que podia ser muito melhor que isto. Pode ser que ainda não seja tarde demais, o tempo passa com uma rapidez alucinante, mesmo parecendo que passa devagar para outras coisas.
Tudo isto me define em parte, mas não exclusivamente (felizmente). Também há coisas boas. E são essas coisas boas que me vão dando força. Mal ou bem, cheguei até aqui.
Há que mudar. Mas mudar o quê? Sinto-me fraca. Sinto que podia fazer, que podia ser muito melhor que isto. Pode ser que ainda não seja tarde demais, o tempo passa com uma rapidez alucinante, mesmo parecendo que passa devagar para outras coisas.
Tudo isto me define em parte, mas não exclusivamente (felizmente). Também há coisas boas. E são essas coisas boas que me vão dando força. Mal ou bem, cheguei até aqui.
4 comentários:
Se calhar, uma conversa mais aprofundada e sincera com a psicóloga, ajudar-te-ia ainda mais, Elsa. De resto, eu sou também um pouco assim. Mas luto, e acabo por ultrapassar as coisas e fechar portas na minha cabeça.
Parabéns pelo passo de ires em busca de ajuda. Mas agora continua. Dizem que resulta muitas vezes.
Elsa, percebi que este assunto é sensível para ti e que provavelmente não está bem resolvido na tua cabeça, acho que devias voltar à psicóloga e falar tudo o que tens aí, sei que não é fácil porque eu também sou uma pessoa muito reservada, mas por vezes falar com estranhos neste caso psicólogos ajuda porque eles estão lá para te ajudar e não para julgar, acho que deves ir novamente e falar tudo o que vai na alma, vais ver que vais ficar melhor, força.
Obrigada pelas vossas palavras meus queridos. Os dias já estão a clarear, isto de se juntar TPM, estar mal da vesícula e lembranças antigas não está com nada. Amanhã post da Tunísia :)
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