sexta-feira, 20 de julho de 2012

Encontro imediato

Já faz mais de um ano, tinha eu ficado com esta criaturinha há apenas uns dias, quando aconteceu. Como era hábito, levantei-me às 6h30, WC, cozinha, preparar o biberão para a gata, enfiá-la na sua caixa de sapatos com uma mantinha, vestir o fato-macaco, calçar galochas, e ala para a vacaria.
Tudo corria normalmente. Passei a manhã a inserir dados no computador, à volta das fichas antigas, máquina de calcular sempre a postos, a seca do costume. Acho até não foi preciso descer para ajudar em nada, portanto já devia estar naquele estado quase hipnótico e automatizado do qual só um café duplo me salvaria.
Era um domingo, agora que penso nisso, porque o chefe não estava e a rapariga estava de folga. Era já de tarde, estava só eu e a outra funcionária, o marido dela ocupado na ordenha. Nasceram gémeos. A funcionária chamou-me para ajudar, que estava sozinha. (Quando nasce um vitelo tem de se tirar o vitelo do parque para uma casota individual, para depois lhe dar colostro por sonda. A mãe também muda de parque, para ser ordenhada.)
Eu, contentíssima por sair daquele escritório, desci as escadas para, mais uma vez, meter as mãos na massa, ou melhor, nos vitelos. Cliquem aqui para terem uma ideia de como é o sítio. A funcionária ficou cá fora, com o carrinho de mão, para depois os levar. Passei entre as primeiras grades e saltei as outras, que os vitelos estava na parte da terra/palha. Com algum cuidado vi onde estava a mãe, que estava preocupada com os filhotes, e percebi que não me ia causar problemas. É só ir falando com ela. Para facilitar fui ao filhote que estava mais longe, era malhado de castanho. Chego-me ao pé dele, vejo que está tudo bem, começo a pegar nele....


...


...


...


Eis senão quando vem uma vaca lançada em defesa do vitelo. Apanhada de surpresa, só tive tempo de esticar a mão para a frente, como se por acaso eu fosse capaz de parar assim uma investida de uma vaca em fúria... claro está que levei com a vaca em cima. Por sorte, que podia ter sido um grande azar, não estava longe das grades. A vaca lançou-me contra elas, deu-me mais duas ou três marradas até que os guinchos (sim, guinchos) da funcionária a distraíram e eu consegui escapar-me por entre as grades. Não me lembro do que pensei na altura. Surpreendentemente, até nem fiquei muito suja, porque ao passar as grades fui parar ao corredor que normalmente está cheio de... hum... bosta.
E pronto, lá passou o susto, fui-me lavar, não tinha nada partido, não me doía nada assim de especial, fui enfiar-me no escritório a chorar, agora que ninguém me estava a ver, para me recompor do susto. Ainda bem que não estava sozinha, mas ainda melhor não estar lá mais ninguém...
Os minutos passavam, ainda tive de dar biberão à gata, com algum custo, visto que agora que estava a arrefecer é que me começavam a aparecer as dores... e o pulso esquerdo a inchar.... fechei tudo, já não tinha o mínimo de espírito para papelada, e fui para lá para baixo respirar um bocado de ar puro. Isso e ver o número da vaca.
A filha da funcionária entretanto chegou do trabalho, acenei enquanto passava de carro, e veio a funcionária meter conversa comigo. Claro está que se apercebeu que eu estava à rasca, disse-me para pôr gelo e perguntou se não queria que a filha dela me levasse ao centro de saúde. Aceitei, que já estava a ver que aquilo não passava só com ibuprofeno...
E aí começou outra odisseia. Deixei a gata em casa e fui com ela para o centro de saúde, que não tinha serviço de RX porque era domingo. Solução: hospital de VF Xira. O namorado dela juntou-se a nós, foi ele a conduzir. Simpático, tal como ela. Mas um louco a conduzir. Pensei que nos íamos despistar a meio caminho aí umas 3 vezes. Dei por mim a pensar porque raio não tinha ficado quieta. Chegada ao hospital, quase duas horas na sala de espera, numa figura miserável. Fato-macaco, um saco de gelo no braço enrolado com um trapo de uma t-shirt velha, meias e chinelos de meter o dedo, porque ainda tinha conseguido tirar as galochas. E o cheiro devia ser "interessante", porque não tinha ninguém sentado ao pé de mim. Entretanto chegou um forcado que me passou à frente, com uma lesão num ombro. Compreende-se... fiz o maldito RX, que por mais jeitoso que fosse o técnico bem me custou porque tive de endireitar bem o braço e a mão. Não estava nada partido, o ortopedista ligou-me o braço quase até ao cotovelo, com direito a algodão por dentro e tudo, e disse-me para tomar analgésicos e não usar a mão durante uns tempos. Isto tudo com piadas sobre a causa da lesão, claro.
Era a minha mão esquerda, caramba... lá me fui embora, cheguei a casa já de noite, estafada, com dores. Ainda tratei da gata, mas já não tive pachorra para comer. Lavei-me sumariamente como pude e fui-me deitar. Não preguei olho nessa noite, com dores no braço. Tinha-me esquecido dos comprimidos no escritório, e tinha lá deixado o carro... 10-15 minutos a pé no meio da escuridão não era propriamente o que me apetecia... lá para as 4 e tal levantei-me e fiz um raid pela casa, à procura de uma qualquer substância que me pudesse amainar as dores. Lá encontrei um Voltaren 25 mg, coisa fraca, mas tinha de servir. Ainda demorou a fazer efeito, mas ajudou.
Adormeci eram já quase 7h, acordei quase às 10h. Bom, tenho de ir ao escritório... Pus-me a caminho, encontrei o pai do chefinho logo a seguir, o que veio a calhar porque me deu boleia. Toda, mas toda a gente achou por bem fazer piadinhas. Pior, vim a saber que já estavam todos avisados que aquela vaca era manhosa. Todos, menos eu. Obrigada, eternamente agradecida.
Tempos depois deste acontecimento, estava eu na manga com a rapariga, ela ia inseminar umas vacas. Uma das quais... Txaraaam, essa mesma. Conseguiu falhar a minha perna por milímetros ao dar um valente coice na manga. Portanto, das duas uma: ou tinha alguma coisa contra mim pessoalmente (às vezes dá-me para a paranóia) ou era mesmo má rês (literalmente). De qualquer modo, serviu de exemplo. Sempre alerta, sempre um plano de fuga.



Resumindo e concluindo: a única lesão com que fiquei foi porque... estiquei a mão. Esperta, né?



Notas finais: Os vitelos ficaram bem. Nenhum animal foi maltratado durante os acontecimentos relatados. Nenhum animal, excepto eu.   ツ

2 comentários:

Vic disse...

eheheh! Porque é que em vez de esticares a mão, não tentaste uma pega de caras? :)
Bom, mas ainda bem que já passou, Elsa :) Bjinho

Unknown disse...

Lol não tive esse instinto, mas ia contra as grades na mesma. Vá lá que foi mais o susto que outra coisa. Vendo agora teve a sua piada, e o trauma passou-me depois de mais uns partos, portanto a experiência serviu o seu propósito :)

Thanks*