sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Histórias

Para fechar este assunto, estava agora a ler este artigo no Público e nem sem bem definir a minha opinião (sobre o dito artigo). Por um lado, faz lembrar um bocado o Correio da Manhã; por outro lado, quem costuma ir às manifs já sabe que os estivadores aquecem sempre os ânimos, podem ter sido alguns estivadores, podem ter sido outros que não têm nada a ver. A mim não me interessam as profissões, interessam-me as acções, as atitudes.. Vamos dissecar mais a fundo quem fez o quê? Não vejo grande utilidade nisso.

Sempre tive algum receio pela minha integridade física, desde pequena. Felizmente, e com alguma sorte, nunca fui alvo de violência.

Quando era pequena levei umas bordoadas de colher de pau, em duas situações distintas. Por acaso foram bem merecidas, mas nada que me marcasse negativamente.

Quando adolescente, sempre que ia a Lisboa (normalmente à Baixa) tinha a sensação constante que alguém me ia esfaquear pelas costas (paranóias... enfim). Diga-se de passagem que não é que não estivesse habituada à selva urbana, já que sempre vivi numa das terras com mais má fama da linha de Sintra. Nunca me fizeram mal em Lisboa, assim como na minha terra, onde o máximo que me aconteceu foi uma tentativa de assalto a um amigo quando vínhamos os dois a descer as escadas para ir para as aulas (tentativa falhada, tiveram pena porque eu era rapariga...) e um assalto à minha casa, em que o assaltante (acho que sei quem foi - um drogado cá da zona, mas nunca tive certeza) entrou pela janela da cozinha, foi à sala levar-me a televisão e o vídeo e ainda teve o cuidado de limpar a terra que espalhou ao entrar, porque quando chegámos a casa estava um montinho de terra ao pé da janela e um pano da loiça ao lado. Havia vantagens de ter uma casa de droga na rua perpendicular à nossa, eles só recorriam às casas da zona em último recurso.

Já crescidinha, lembro-me de dois episódios de quase-violência: um nas festividades dos Santos Populares, em Lisboa, na zona da Sé. Muita gente, eu e amigas a virmos embora, metidas na multidão que descia a rua, Passo lento, claro. Paciência. De repente ouço uma comoção algures atrás de mim, e tudo se passou em câmara lenta. Viro-me para trás para ver o que era, começo a ver a polícia de choque (na verdade, eram cerca de 7 em linha a descer a rua em passo acelerado, chocando - daí o nome - com tudo o que se lhes aparecesse à frente). O que é que eu fiz? Nada. Paralisei. Se não fosse uma das minhas amigas dar-me um puxão e arrastar-me para fora dali tinha levado com eles. Esta tendência para paralisar e ver tudo em câmara lenta face ao perigo confirmou-se noutra ocasião, em que fui com uma amiga minha buscar uma pizza para o almoço, para comermos na faculdade, porque havia uma promoção qualquer especialíssima. A pizzaria mais próxima era quase em Belém, ao pé de uma escola, se não me engano, da Casa Pia. Num momento estávamos na enorme fila (ou espécie de fila porque se assemelhava a um amontoado de adolescentes) sendo que nós as duas e duas professoras éramos as pessoas mais velhas do sítio; no momento a seguir, um vira-se para trás e dá um murro noutro que supostamente lhe estava a tentar passar à frente. Mais uma vez, no meio de adolescentes enfurecidos, funcionários a fugir para a cozinha, cadeiras a voar, tive de ser puxada para o fundo da sala para não levar com tudo em cima. Podia ter sido puxada para a saída, caso o polícia que lá estava de plantão não tivesse fechado a porta enquanto chamava reforços. Era um ter uma faca ou uma arma e queria ver... não, por acaso não queria nada. Nesse dia vi o Michael Jackson  sair da escola. Não, era só um miúdo que podia perfeitamente ser um sósia do Michael Jackson, roupa, chapéu, meias, sapatos e cabelo incluídos.

Numa das primeiras manifestações deste "ciclo", saí da zona da assembleia literalmente momentos antes de começar a confusão. Tivesse sido como nesta última, e tinha sido caçada pelas ruas. Tenho tido sorte. Há quem não possa dizer o mesmo, infelizmente. Se tenho algum medo de ir à próxima? Algum, não significativamente mais do que antes, penso eu. Nunca me senti bem em multidões, aflige-me, mas não vou deixar de ir por isso.

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