sábado, 26 de janeiro de 2013

Curto-circuito

Estava aqui a ler esta notícia. Aconteceu algo semelhante à minha mãe. Por algum motivo os médicos resolveram esconder o facto de o meu irmão ter uma anomalia nos canais que permitem a drenagem do líquido cefalorraquidiano para o sistema sanguíneo, o que acabou por resultar em hidrocefalia e posteriormente numa deficiência profunda. Era uma altura em que o aborto era tabu, mas pior que tudo, era um problema que podia ter sido resolvido. Nunca aprofundei esta conversa com a minha mãe, mais ainda porque o meu irmão já não está entre nós, mas foi algo que sempre me revoltou. O dinheiro não paga uma vida passada assim, mas o pagamento das despesas necessárias ao acompanhamento clínico, educação e bem-estar da criança (e que serão muitas) sempre alivia um pouco. No entanto, e além dos problemas óbvios do dia-a-dia, fica sempre o medo de, se a mãe for primeiro embora deste mundo, em que mãos fica aquela criança/adolescente/adulto que não conseguirá tomar conta de si sozinho?

Se a mãe soubesse a tempo, abortava? Não sei como seria se fosse comigo, vendo daqui penso que seria a melhor opção, pela experiência que tive com o meu irmão. Não que não o amasse, mas não era vida.

E como é que o médico tem cara de dizer "olhe, aqui estão os bracinhos, aqui estão as mãozinhas"? (não doutor, nem sequer estão lá!....). Se não se vê, não se vê. Se parece, diz-se que parece. Que imagem dá este médico aos profissionais competentes da sua área?

Imagino a carga de trabalhos e despesas jurídicas envolvidos nestes 10 anos de batalha judicial...

1 comentário:

Luis disse...

Por causa dessa e de outras é que não queria ser médico.

Acredito que com o tempo, o que me parece horroroso de se ver e fazer, seria tão natural como beber um galão, ma até lá...

E tudo isto tem um beneficio, pôr as coisas, ano ssa vida e os nossos dias em contexto.