Já um pouco mais confortável, vamos lá voltar ao plano inicial: memórias.
De quando datam as vossas memórias mais antigas?
As minhas são de quando tinha 3 anos. Parece que a partir dessa idade comecei a registar uma série de acontecimentos (normalmente menos bons, curiosamente) que de vez em quando me assaltam o cérebro. Não que mereçam ser esquecidos, nada disso, fazem parte de mim, mas gostava de ter tão boa memória para outras coisas, diria eu, mais úteis.
Não as saberia ordenar cronologicamente, claro, se não fosse a minha mãe. Foram acontecimentos que de alguma forma me marcaram, lembro-me como se fosse hoje, as cores, os sentimentos, literalmente pequenos fragmentos da minha vida. O facto de praticamente todos serem "maus", no entanto, faz-me pensar na minha maneira de ver as coisas, desde bem cedo...
Assim de repente, das poucas memórias positivas é de quando ainda usava fralda, mas já era naquela fase de transição, já era "crescidinha". Lembro-me de a minha mãe me abrir a fralda e exclamar "Ahhh, muito bem, não fizeste xixi na fralda!" (que orgulho... se calhar mais valia ter feito, já que era uma fralda das novas, daquelas descartáveis, um bom upgrade para quem usava maioritariamente fraldas de pano)
Depois vem um rol de quedas e feridas, uma das quais deu origem à pequena cicatriz que tenho no sobrolho. Ia eu alegremente pelo meu quintal quando me deu na cabeça perseguir um pato. Daqueles branquinhos, com o bico amarelo, fofinhos. Mas eu queria mesmo era apanhá-lo, qual Elmyra dos Tiny Toons. Não o apanhei. Cheguei à pequena horta ao lado da casa e não reparei que havia umas cordinhas a delimitar os canteiros. O pato fez uns quantos slaloms para se escapar da criatura horrenda que o perseguia e eu tropecei no primeiro fio que se me apareceu à frente. Caí, claro está, na única pedra com tamanho suficiente para aleijar que por ali se encontrava. Lembro-me de me levantar, espetar a mão imediatamente na têmpora e ir a correr para a minha avó. A caminho lembro-me de olhar de lado para a mão e ver sangue a escorrer, aí sim, comecei aos berros. A memória seguinte é na cama, a debater se me deviam levar ao enfermeiro dos bombeiros para levar pontos. Aqui é que a memória já me falha, acho que cheguei a ir lá e que ele disse que podia levar um ponto mas que não era essencial (tal era a gravidade da coisa...), só sei que me opus veementemente à ideia de me espetarem uma agulha, ao menos deram-me ouvidos... Hoje em dia as agulhas não me fazem impressão nenhuma, se calhar tinha menos uma cicatriz por esta altura se não tivesse sido tão mariquinhas...
Entre entalões quando brincava no carro antigo do meu tio com os meus primos, quedas e tropeções vários, aventuras com os animais lá de casa há muito que explorar, que eu era bastante desastrada.
Entre entalões quando brincava no carro antigo do meu tio com os meus primos, quedas e tropeções vários, aventuras com os animais lá de casa há muito que explorar, que eu era bastante desastrada.
Outra situação passou-se num parque infantil. Os mosquitos e melgas sempre gostaram muito de mim. Na altura a minha mãe besuntava-me com Caladryl e uma outra pomada da qual não me lembro do nome, mas ambas tinham em comum o formar de uma espécie de "capa" protectora que eventualmente começava a escamar... Estava eu sozinha, os meus pais lá ao fundo a ver se eu não me magoava, quando chega um grupo de miúdos, com os quais de boa vontade partilharia o escorrega. Partilharia se eles não chegassem ao pé de mim, como se de um alienígena se tratasse, e me expulsassem com o argumento "tu és esquisita, estás a pelar, sai daqui"... eram muitos, fugi a correr e a minha mãe foi-lhes lá dar um raspanete. Nunca mais fui ao tal parque...
Mas a mais antiga é mesmo capaz de ser quando a minha tia e os meus primos se foram embora para a Austrália. Lembro-me de estar ao portão com a minha mãe a dizer adeus à minha tia, que levava o meu primo mais novo ao colo. à medida que a minha tia se afastava, a minha mãe começou a chorar. Na altura nem me apercebia do que estava a acontecer, mas comecei a chorar também, claro...
Valham-me as fotografias para ver que a minha primeira infância não foi feita só de lesões e trapalhadas :)
Adenda: que parvoíce, esquecimento imperdoável, das melhores memórias que tenho, talvez a melhor, tinha eu quase 4 anos, foi de andar num C-130 a caminho dos Açores, espreitar pela janela e ver nuvens cor-de-rosa, ao fim do dia, pareciam de algodão :)
Mas a mais antiga é mesmo capaz de ser quando a minha tia e os meus primos se foram embora para a Austrália. Lembro-me de estar ao portão com a minha mãe a dizer adeus à minha tia, que levava o meu primo mais novo ao colo. à medida que a minha tia se afastava, a minha mãe começou a chorar. Na altura nem me apercebia do que estava a acontecer, mas comecei a chorar também, claro...
Valham-me as fotografias para ver que a minha primeira infância não foi feita só de lesões e trapalhadas :)
Adenda: que parvoíce, esquecimento imperdoável, das melhores memórias que tenho, talvez a melhor, tinha eu quase 4 anos, foi de andar num C-130 a caminho dos Açores, espreitar pela janela e ver nuvens cor-de-rosa, ao fim do dia, pareciam de algodão :)
2 comentários:
A mim também me aconteceram algumas, desde cortar a língua ao meio, um prego no pé e outras tropelias, acho que faz parte.
Tens uma boa memória. Geralmente as crianças só começam a registar episódios a partir dos 4/5 anos, e mesmo esses são muito difusos. De muitos, só nos "lembramos" porque os adultos no-los contam muitas vezes :)
Eu também tenho recordações (entre as quais algumas dessas dolorosas :) ), mas a maior parte desinteressantes. Acho que a minha vida só começou a ter alguma remoção a partir do 10 anos. Pelo menos, que me recorde.
Enviar um comentário