quarta-feira, 2 de maio de 2012

Biopost #3 - Abacate (Persea americana)

Andava há já algum tempo com uma ideia na cabeça, até que resolvi investigar mais a sério a viabilidade da mesma.


Facto: Adoro abacate.

Coisas da vida: É-me difícil arranjar abacates de boa qualidade, amadurecidos correctamente ou passíveis de serem amadurecidos correctamente em casa.


Resultados possíveis da junção dos dois elementos acima:
  • A vontade de comer abacate atinge tal nível que acabo por cair na asneira de comprar abacates verdes (e não tenho jeito nem paciência para os amadurecer em casa);
  • Fico a olhar durante 5 minutos, a duvidar se a boa aparência dos abacates que repousam na prateleira, a chamar por mim, se deve de facto à sua boa qualidade ou se é a vozinha cá dentro que me está a embelezar o cenário.
  • Mais frequentemente do que considero razoável, sou induzida em erro e em casa reparo que o que aparentava ser um bom abacate está quase todo castanho, seja por ter sido mal amadurecido seja pela quantidade de pessoas mal educadas, egoístas e... bom, já chega de insultos, que vêem com as mãos. São as mesmas pessoas que apalpam todo o legume e fruta que se lhes aparece à frente, nada gentilmente, e que normalmente acabam por não levar nenhum. Devem ter pouca noção da força que têm, os estupores... era andar com uma cana na mão e acertar-lhes nos nós dos dedos, a ver se aprendiam...
  • Acontece também algumas vezes o abacate ter todos os sinais de perfeição, e quando chega a hora H sabe a verde. Estes ainda consigo aproveitar, têm boa textura, mas não dão o mesmo gosto. Disfarço com mais sal, limão e cominhos.
  • Em alguns momentos épicos, em que parece que se abrem as nuvens e através delas passa uma luz divina, acompanhada de uma música celestial.... A coisa corre bem. Quando corre bem acontece levar quantos abacates posso com o pouco dinheiro que possuo na carteira, depois de um breve cálculo de quantos abacates posso eu comer antes que se estraguem.
Instruções aqui

 Bom, passando a parte em que não bato bem da cabeça à frente, passemos à minha ideia: criar os meus próprios abacates. Como vi tanta vez, pega-se num caroço, espetam-se uns palitos, mergulha-se num copo, põe-se ao sol, depois eventualmente passa-se para um vaso. Mesmo sendo uma árvore de grande dimensão, podando aquilo deve ficar com uma altura razoável para ter aqui no quintal. E mesmo que tivesse de esperar 3 ou 4 anos para que a árvore desse fruto, depois podia ter TODOS os abacates que quisesse, quando quisesse, e da maneira que quisesse!

 O êxtase durou pouco tempo.

Parece que afinal criar um abacateiro é até uma tarefa relativamente fácil, o pior é mesmo a parte do dar fruto. Primeiro, porque a semente que criarmos tem baixa probabilidade de vir a dar uma árvore com as mesmas características da "mãe". Com cruzamentos e enxertos pelo meio, era de esperar, eu é que estava cega com o sonho de poder vir a nadar em abacates. Depois, para assegurar a polinização e posterior formação de fruto, convém ter pelo menos 3 ou 4 árvores, de modo a haver polinização cruzada. A auto-polinização é complicada, porque os órgãos masculinos e femininos da planta desenvolvem-se dessincronizadamente. Aqui há diferenças entre cultivares: cultivares tipo A e tipo B, com sincronização diferente entre os órgãos masculinos e femininos. Tenho espaço, mas não para 3 ou 4 árvores, por muito que as pode...
 Outro pormenor que desconhecia é que os frutos chegam apenas a um determinado estado de maturação enquanto na árvore, para amadurecer mesmo têm de se tirar, tal como acontece com as bananas. Poderia ser vantajoso para que eu não tivesse de comer abacate de enfiada, que aquilo ainda é bastante calórico. Por tentativa e erro conseguia aprender a amadurecê-los como deve ser, penso eu.


Fiquei também a saber alguns pormenores com mais ou menos relevância ou piada, que aqui partilho:
aqui
  • É uma árvore da família das Lauráceas, assim como o louro, a canela e a cânfora;
  • É originária do México;
  • A variedade nativa, não-domesticada, chama-se criollo, é pequena e com uma maior proporção do fruto ocupada pela semente;
  • O nome vem do espanhol aguacate, que por sua vez vem da linguagem indígena ahuácatl, que significava testículo;
  • Há uma série de cultivares diferentes: Choquette, Hass (a minha favorita), Gwen, Lula, Pinkerton, Reed, Bacon, Brogden, Ettinger, Fuerte, Monroe, Sharwil, Zutano, Spinks, Sir Prize, Walter Hole (a bold as mais comuns cá em Portugal);
  • Partes da planta são bastante tóxicas para alguns animais: gatos, cães, vacas, cabras, coelhos, ratazanas, aves, peixes e cavalos.
  • Há uma Comissão Californiana do Abacate: http://www.avocado.org/
  • O abacate é um fruto rico em gorduras monoinsaturadas, como o azeite, daí o seu alto valor calórico.
  • É também um fruto bastante nutritivo, com valores significativos de vitamina E, ácido fólico, potássio, vitaminas do complexo B e fibra.
Como gosto bastante de comida mexicana, o abacate é uma peça chave. Dependendo do tempo, paciência e qualidade do fruto, costumo prepará-lo de várias maneiras: cortado aos cubos, regado com sumo de limão e sal; esmagado com um garfo, com limão, sal e cominhos; esmagado com um garfo ou passado com a varinha mágica, juntando-lhe depois sal, lima ou limão, cominhos, cebola e tomate bem picados, coentros picados e eventualmente um pouquinho de alho em pó, pimentos picados ou jalapeños. Com nachos, sem nachos, sozinho, acompanhado, é bom de qualquer maneira. Há quem o coma como doce, com açúcar ou mel, eu pessoalmente não aprecio.


Deu para notar que me está a apetecer bastante agora, não deu? :)


7 comentários:

Vic disse...

LOL! Ainda bem que não gosto de abacates. Olha a série de cuidados de que me livrei!

Rainha ST disse...

Bem, que lição aprendi hoje sobre abacates, tenho o mesmo problema ao comprar para fazer guacamole eles estão sempre verdes e não sou muito boa a escolher, de maneira que apanho sempre uma desilusão.

Aproveito o teu post e como já percebi que percebes alguma coisa de agricultura, o que eu gostava mesmo era de ter sempre espargos em casa, mas acho que são difíceis e também demoram muitos anos a crescer e os que existem frescos nos hipermercados são muito caros e não dá para estar sempre a comprar :(

o anão gigante disse...

Bonito, gostei muito.

Unknown disse...

@Vic: se gostasses tanto como eu de certeza que te passava qualquer coisa destas pela cabeça :) ou então não :D

@Rainha ST: É desilusão, de facto, mas quando aparecem aqueles mesmo mesmo bons, é o paraíso :) Quanto aos espargos, estive a ver e sem ser na terra, com espaço, é de facto complicado, mas vou reunir a informação e mais logo deixo-te aqui o link para veres*

@o anão gigante: obrigada, mas nem se compara :)

Unknown disse...

@Rainha ST: desculpa o atraso, o scanner anda com a birra outra vez. Se vires isto diz qq coisa: https://www.dropbox.com/sh/s3q9jv7ibe3906r/mKsxc7yTjf/Espargos.pdf

É informação a mais, mas já que ia tirar partes resolvi tirar o capítulo inteiro do espargo.

Bluebluesky disse...

Gosto bastante!! Tanto da versão doce como da picante.

Unknown disse...

Hey Bluebluesky, welcome :) é tããão bom :)