quinta-feira, 14 de junho de 2012

Lateralidade

Por lateralidade refiro-me à predominância de um lado do corpo sobre o outro. O mais comum é falar-se de destros e canhotos na escrita, mas a lateralidade nota-se a vários níveis: olhos, ouvidos, mãos, pés. Há pessoas puramente destras, outras puramente canhotas, muita gente algures no meio (lateralidade cruzada, a um ou mais níveis) e uns poucos verdadeiramente ambidestros.

Sou canhota desde sempre, mas isso não me faz sentir especialmente diferente da maioria destra. Ser canhota num mundo destro só faz com que se acentue a minha tendência para o desastre (sou um bocado trapalhona às vezes). Não é coisa que se note muito, mas há pormenores do dia-a-dia que nos fazem diferença, não necessariamente de modo negativo ou limitante. A maior parte das coisas está, naturalmente, preparada para a maioria destra: a escrita, tesouras, algumas facas, portas, etc. Nada a que não nos consigamos adaptar, mas acentua-nos a diferença. Quando se olha para duas pessoas  a escrever, topa-se logo qual é a canhota, por exemplo. Antigamente ser canhoto era tramado, mas nos dias que correm acho que ninguém repara. Não consigo resistir a achar piada quando topo que alguém é canhoto, parece que partilho um laço com tal pessoa, mas isso deve ter a ver com uma característica humana inata e inconsciente, a de se identificar com alguém. Acontece com raças, com religiões, com marcas de carros, com nomes, é natural que aconteça entre canhotos também. Não é por aí que se é melhor ou pior, é instintivo.


Pelo que me apercebo, sou canhota pura, ou seja, favoreço sempre o lado esquerdo: escrevo com a esquerda, chuto com a esquerda, o meu olho director é o esquerdo, utilizo mais o ouvido esquerdo, inconscientemente. Agora que falo nisso, querem um teste simples para saberem qual é o vosso olho director, ou dominante? Aprendi isto quando o F. me estava a ensinar a usar a arma de Airsoft. Peguem num papel qualquer, numa folha A4, num envelope, o que tiverem mais à mão. Façam um buraco no meio, do tamanho de uma moeda de 50 cêntimos (mais ou menos, não é suposto ser rigoroso). Peguem no papel com as duas mãos, estiquem os braços e, com os dois olhos abertos, apontem o buraco a um objecto qualquer, mais ou menos longe. Depois de terem o objecto centrado, fechem um olho, depois o outro. Vão ver que numa das vezes o objecto mantém-se dentro do buraco. noutra desaparece. Assim conseguem perceber que, apesar de fazerem a mira com os dois olhos abertos, um dos olhos é que manda. Mas vamos a algumas estatísticas e factos curiosos, mais ou menos estudados cientificamente:

Pertenço a uma minoria, portanto.


Pertenço a uma minoria de uma minoria, já que não sou um génio.

Sou tão mais minoritária ainda que não lhe vejo a cor.

Sou a vergonha da classe dos canhotos, nem para alcoólica dou.

Apesar de serem os dois destros, a minha mãe tem ali algumas canhotices.

Vou prestar mais atenção às gatas cá de casa.

Nem por isso, odeio mais aquelas cadeiras com apoio para escrever, tinha de me virar toda.

Estímulos ainda vá, agora jogos? Então para os de tiros, por mais que eu queira, não tenho destreza nenhuma.

32 anos é tarde para ter filhos?

Esqueci-me de perguntar aos meus colegas da altura se já tinham atingido a puberdade, portanto não sei. Mas tive o sinal mais claro da chegada à puberdade no dia em que fiz 13 anos. Bela prenda...

Rato do lado direito, tesouras com a esquerda, faca com a mão direita (portanto, agora não tenho grande jeito nem com uma nem com outra, daí o meu fraco desempenho com o rato e o perigo de ter um bife para cortar à minha frente).

Sempre engraçado saber...

Lá chegaremos. Depois conto.

Mais algumas:
  • Destros de mão: 88.2%
  • Destros de pé: 81.0%
  • Destros de visão: 71.1%
  • Destros de audição:59.1%
  • Mesma mão e pé: 84%
  • Mesmo ouvido e olho: 61.8%
(daqui)

Fala-se ainda que os canhotos terão maiores capacidades visuais/espaciais, que há uma concentração de canhotos maior do que seria de esperar em profissões ligadas à matemática, música, arquitectura, ou ao desporto, ou maior tendência para alguns distúrbios mentais e algumas doenças. Enfim, nada mais que estudos (uns mais científicos que outros) e estatísticas que valem o que valem. Ainda por cima são estudos normalmente americanos, não são à escala global. Também, com tanta coisa mais importante para estudar, é natural. Mas eu acho curioso :)


Ainda podia falar mais sobre o tema, mas acho que por hoje já chega. Deixo-vos com alguns canhotos famosos:
  • Bill Clinton e Barack Obama;
  • Príncipes Carlos e William;
  • Isaac Newton, Marie Curie, Benjamin Franklin;
  • Michelangelo, Leonardo da Vinci;
  • Alexandre, o Grande, Carlos Magno e Júlio César;
  • Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Paul McCartney;
  • Robert deNiro, Charlie Chaplin, Nicole Kidman;
  • Aqui na blogosfera, só me ocorre o Troll of the North, acusem-se! :)
(mais aqui)

5 comentários:

Carla disse...

Eu sou destra, mas acho que o meu sobrinho mais velho vai ser canhoto.

Normalmente os miúdos passam pela fase de usar ambas as mãos, por exemplo, até usarem a que dá mais jeito. Não sei se estou a falar correto, mas lembro-me de ter visto isto nos meus irmãos mais novos.

Salvador disse...

Um bom post, Elsa, deveras instrutivo...))

Vic disse...

Eu sou mesmo destro. O que não quer dizer que seja especialmente jeitoso de mãos :) (bom, há coisas para que sou, mas não vêm ao caso, que não sou gabarolas) :)

trollofthenorth disse...

Cadernos com espirais foram o meu nemesis durante toda a secundária. Estavam na moda e eu abominava todo o processo de escrever nos ditos.

Mas num mundo de destros habituei-me a tudo.

A última curiosidade deprimiu-me. Já sabia que ia morrer novo. -_-

Left-handed of the world, unite!!!

Unknown disse...

@Uma Rapariga Simples: Correctíssimo, a tendência começa a notar-se cedo mas a 'escolha' definitiva só ocorre mais tarde. Em pequeninos usam as duas mãos igualmente.

@Salvador: Obrigada :) de vez em quando lá sai qualquer coisa instrutiva :)

@Vic: Estou contigo nessa, desastrados mas no que interessa... :D

@trollofthenorth: a dos cadernos sempre me chateou mas eu também nunca fui de dar muita importância a isso. Era da maneira que largava os cadernos passado pouco tempo. Acho que nunca acabei nenhum.

Opá, morremos novos mas em forma :)