e qualquer dia levo pancada.
Há uma quinta aqui por trás do complexo de associações onde trabalho/estagio, complexo esse que é gradeado, com um portão aberto mas do lado oposto à tal quinta. Aqui há tempos conheci uma cadela, a Camila, que às vezes aparece por cá. O dono da Camila vive na tal quinta. A Camila atravessa uma vala de regadio para cá chegar, pensava eu que por desporto. A Camila vem sempre a cheirar muito muito mal, mas é uma querida. É preta, é capaz de ser da raça labrador. A Camila começou a vir todos os dias ter comigo, entrando escritório adentro. Um belo dia aparece o pai do dono da Camila, com maus modos. Levou a Camila embora, apesar de ela se andar a esconder atrás de mim e a esquivar-se do dono. Dois dias depois, a mesma história, mas apareceu o filho. Menos antipático, mas nem uma palavra comigo trocou, apesar de eu explicar que não dou comida à cadela e que não posso fechar a porta do escritório, nem ia tratar mal a cadela só para ela se ir embora.
Cheira-me que a Camila não gosta muito dos donos. A Camila faz-me companhia e protege-me (pensa ela, que às vezes sai daqui a ladrar quando passa alguém de quem ela não gosta), deita-se ao meu lado, sossegada, às vezes quer brincar e suja-me toda, ou vai brincar ali nas oficinas sempre que alguém está a lavar um carro (e volta depois toda molhada, ainda a cheirar mal, mas menos mal).
Se eu pudesse, raptava-a. E mudava-lhe o nome, Camila é esquisito por mais que eu repita.
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